14 de janeiro de 2013

E nosso amor era uma mentira...

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Você sentado na cama com os olhos levemente marejados.
Eu sentada no chão, perto da porta, pensando como falar tudo aquilo que me sufocava de forma compreensível aos seus ouvidos.

- Você lembra do show de Paul Macartney? Lembra do que te disse naquele dia? "Um dia nosso relacionamento pode acabar, um dia podemos nos distanciar, podemos até chegar a nos odiar, mas lembraremos durante toda a nossa vida que vivemos esse momento inesquecível juntos." 

Paul cantava "All you need is love" e ouvíamos juntos, chorando e se beijando... fazendo daquela música parte de nossa história.  Voltamos para casa a pé. Lembra? Naquele fim de semana só tínhamos 10 reais no bolso, o gás do fogão tinha acabado e na geladeira nos restou pão e requeijão. Não tínhamos nada para comer e nem para onde fugir. Ficamos o fim de semana inteiro juntos, felizes. Nada daquilo me incomodou. Nada daquilo afetou nosso relacionamento. Toda a necessidade e o cansaço era, para mim, apenas uma fase, só uma pedra em nosso caminho que facilmente seria ultrapassada. Eu era feliz porque sabia que as coisas iriam melhorar, sabia que eu e você seríamos cada vez mais nós. 

Mas por onde nos perdemos amor? Em que momento os nossos caminhos se distanciaram e o que eu quis passou a ser o oposto do que você queria? Onde foram parar os nossos sorrisos? Os nossos carinhos e toda a nossa vontade estar junto?
Onde foi parar o respeito? Qual foi a última vez que teus olhos me viram com admiração? Quando foi o último instante em que eu fui motivo da sua falta de ar?

A única resposta sua foi que não somos mais o que éramos por minha causa. 
Eu que larguei minha família por você.
Eu que te levantei, limpei teus joelhos e segurei em teu braço te ajudando a caminhar.
Eu que abri mão de meus gostos para criar gostos nossos.
Eu que tanto te amei e tanto fiz para que isso tudo desse certo.

Não meu benzinho, a culpa não é minha.
Não fui eu que roubei teus dias com promessas de uma vida de companheirismo e sinceridade.
Não fui eu que roubei teus dias de sol por dias de enclausuramento.
Não fui que te feri com descaso,
Nem fui eu que te troquei por copos de cerveja em madrugadas de bares imundos.
Também não fui eu que ri de você enquanto você chorava sofrendo de tanto amor.

Não, meu bem, nunca eu ri de você. 
Nunca gozei da sua cara com minhas amigas.
Nunca achei que o que você sentia era apenas 'drama'
Nunca te tratei com desdém ou indiferença.

Sempre fui honesta, 
Sempre fui sincera e íntegra,
Sempre estive ao seu lado por inteiro.
Sempre estive com você porque no dia em que nos conhecemos você me disse que eu era a mulher da sua vida e eu, tola, achei que deveria ser. 

Eu te amei.
Eu dediquei 532 dias da minha vida a você.
Eu chorei por você.
Eu sofri por você.
Eu lutei por você.

E o que você fez por mim, meu querido bosque?
No meu momento de maior dor, você riu.
No momento em que eu implorei o teu amor, você me traiu.

Novamente te pergunto, onde foi parar aquele amor que carregávamos em nós dias atrás?
Talvez ele tenha se perdido pela vala imunda do seu egoísmo.
Talvez ele tenha se manchado com o asco do seu individualismo.
E o que eu quero agora?
Apenas me limpar. Tomar um banho e afastar de mim a imundície da sua falta de caráter.
Apagar de minha lembrança o teu riso mais bonito; 
O mesmo riso que no início me fez rir, agora, no fim, me faz chorar.

Fique bem. Mais uma vez sozinho. Olhe para a parede laranja na sala e lembre-se de tudo o que fiz por você. Veja a pia imunda, as roupas apodrecendo e meu cheiro indo embora e tudo o que lutamos para construir se desmoronando em solidão.

... e como eu não pude me despedir, te deixo agora o meu adeus.