30 de março de 2012

"Como se"

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Não me chateio com os seus quereres, pois sei o quanto eles são infantis.
Mas não deixo de me perguntar se sempre vai ser assim...
Quando é que vamos querer juntos?
Quando é que vamos criar uma empatia que dispense desgastes?
Quando é que você vai apenas e simplesmente virar para mim e perguntar: Você quer isso também?
Não se disponha ao "nós" se não sabes vivê-lo.
Ter o outro implica em olhar para o outro, compreendê-lo, aceitá-lo e mais do que tudo cuidar para que ele seja feliz.
Eu to cuidando de você e sei que você vê.
Mas você está cuidando de mim?
Veja bem, meu bem. 
Só lhe peço um pouco de empatia.

27 de março de 2012

5ª Lição

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Que esses dias fiquem registrados aqui...
Aprendo com eles que cuidado requer esforço, mas nos possibilita o prazer de um sorriso.

Parece que a felicidade nos rouba frases poéticas, por isso já faz um tempo que não escrevo, mas andei pensando nisso e to achando que é porque ando vivendo os dias bonitos que estavam na poesia.

Borboletas no estômago, sorrisos, beijos, olhares e aromas estão todos aqui entre nós dois e esse amontoado de coisas boas me lança ao deleite de teu quarto.
Hoje eu não quero escrever sobre o teu sorriso.
Hoje eu quero ver você sorrindo para mim e me beijando na cozinha na tentativa de que eu pare de lavar os pratos.
Hoje eu não quero fazer elucidações sobre nós.
Quero apenas me deitar na cama, apoiar minha cabeça no teu ombro de modo que, de instantes em instantes, eu possa levantar meu rosto, encostar meu nariz em tua barba e sentir de novo o acalento do teu cheiro.
Quero, meu moreno do cabelo enroladinho, apenas que você continue sendo esse bem que me faz.

22 de março de 2012

Diálogos

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- Você tava com saudades?
- Claro que sim. Já me acostumei a dormir depois de ouvir tua voz com sono me dando boa noite.

***

- Podemos não brigar mais?
- Por mim fechou.
- Por mim também.

***

- Eu quero uma cafeteira.
- Eu prefiro um ar condicionado.
- Então façamos assim: Eu compro uma cafeteira pra fazer café no inverno.
- Humm.
- E você compra o ar condicionado pra refrescar no verão. Aí, quando tiver calor aqui no meu quarto eu vou dormir no seu.
- Quem vai sair ganhando sou eu. Vou ter um ar condicionado e você dormindo o verão inteiro ao meu lado.

Preciso de alguém

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Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar,
mas nunca encontrei você na escada.



Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia – eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas. Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto – preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios – que importa? (Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? virá? – e minto não, já não preciso.) Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

Caio Fernando Abreu, 1987

#Como Caio conseguiu ser tão lindo? 

21 de março de 2012

Olha só, Moreno

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Olha só,
Moreno do cabelo enroladinho,
Vê se olha com carinho pro nosso amor,
Eu sei que é complicado amar tão devagarinho
E eu também tenho tanto medo,
Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando,
Mas se a gente vai juntinho, vai bem.
Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando
E a gente tem o eterno amor de além.

E eu me pergunto o que é que eu sou.
Vai ver eu não sou mesmo nada
E eu me pergunto o que é que eu fiz.
Vai ver eu não fiz mesmo nada,
Eu penso tanto em desistir,
Mas afinal, não ganhei nada.


#Oks, dou meu braço a torcer. Mallu cresceu e tá linda. 

14 de março de 2012

Despedida

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E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.


Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

Rubem Braga
Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.