25 de agosto de 2011

...nasceram sussurros...

, , , 0



Amar: Fechei os olhos para não te ver

e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.

Mario Quintana

...nada fazer...

, , 0




Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho… o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

...olhar que acaricia...

, , 0


Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Cora Coralina

HAPPY NEW YEAR

, 0



Mira, no pido mucho,

solamente tu mano, tenerla
como un sapito que duerme así contento.
Necesito esa puerta que me dabas
para entrar a tu mundo, ese trocito
de azúcar verde, de redondo alegre.
¿No me prestás tu mano en esta noche
de fìn de año de lechuzas roncas?
No puedes, por razones técnicas.
Entonces la tramo en el aire, urdiendo cada dedo,
el durazno sedoso de la palma
y el dorso, ese país de azules árboles.
Asì la tomo y la sostengo,
como si de ello dependiera
muchísimo del mundo,
la sucesión de las cuatro estaciones,
el canto de los gallos, el amor de los hombres.

Júlio Córtazar

22 de agosto de 2011

1 X 0 Pra Você...

, , , 0


Por mais que as lembranças ressurjam e eu olhe para elas com aquela vontade de novamente comê-las, 
jaz em nossa possibilidade a falta de possíveis laços a serem reatados.
Não podemos negar, dói saber que o seu primeiro amor vai se casar. 
Alguém substituiu aquele cantinho que supostamente era seu, 
e sem ao menos perceber todas aquelas chances foram pontualmente acabadas sem você nem ter consciência total da perda.
Perdi beijos que me comiam,
Perdi olhos que me despiam,
Os sorrisos mais caros foram para longe,
As brigas que iriam ser gritadas se silenciaram, 
As traições não se efetivaram.
Eu sei, você não era capaz de me amar.
Tanto sei que eu mesma me afastei.
Mas veja, o fato de eu saber que você não sabe me amar não implica em acharmos que eu não saiba te amar.
Mas talvez... Não, não há talvez.
Sim, confesso, realmente não sei te amar.
Não sei nem se isso era amor.
Nos encontramos, 
Você me esperou, 
Fui...
Voltei
Te esperei,
Ficaste,
Fui,
Se casaste.
Eu sei, eu nunca me casaria com você, mas sabe aquela sensação de perda? 
Pois bem, eis o que eu sinto agora.
Nesse tabuleiro, as casas que andei me levaram para outras trilhas,
Suas tentativas de entrar em meu jogo foram falidas e as minhas tentativas de entrar em teu jogo foram inexistentes, pois mesmo quando eu tentava ser sua, era tudo artifício para provar que eu conseguia te fazer ser meu.
Tá vendo, não era amor.
Era apenas uma brincadeira que brincávamos de formas diferentes.
Cada um do seu jeito,
Cada qual com sua arma.
Ambos com feridas e cicatrizes.
E hoje você com um ponto a mais.
Pelo menos por enquanto...



#Ok baby, boa sorte no casório!


18 de agosto de 2011

(...)

0


Como anda o teu agosto?
Ontem choveu e algumas poças ficaram intactas no parquinho da escola.
Passei por um jardim onde vi florzinhas amarelas e todos os dias andam de forma inconstante. 
Fico pensando como podemos encontrar pessoas tão doces...
Como podemos brigar sem querer e amar sem amar...

Você acha que o fato de fazer sexo com alguém implica que há intimidade entre você e esse alguém?

Intimidade não é algo que compete ao sexo, mas algo que passeia na janela do amor.
Sinto vontade de novas conversas, de saber como você vai, 
de, quem sabe um dia, ter a possibilidade de fazer amor com você e não ficar sem saber o que falar na hora do café da manhã.
Coisa triste não saber o que falar na hora do café da manhã.
Queria aprender a estabelecer conversas nessa situação.
O que se fala além de Bom Dia, alguém sabe?
Ando cansada de chás de frutas roxas, vermelhas e afins...
Cafés fazem falta,
Amor também faz.

15 de agosto de 2011

Profanações

, , 1


Ainda passeiam pelo mundo terreno Deuses fingindo-se de humanos?
Apolo passou ali, 
chamou os olhos de todas as ninfas, 
despertou o desejo de todos os elfos e 
deliciou as humanas criaturas com o perfume pagão de sua beleza.
Sua língua passeava, sem timidez, pelo pescoço suado.
O sal dos corpos pediam álcool, mais álcool sempre, para que toda libido ali existisse.
As bocas se comiam em meio a multidões de olhos que queriam aqueles lábios.
Se as mãos que pertenciam a ele um dia quiseram roçar a superfície do frágil corpo dela, aquele era o momento.
Inapropriado momento em que mãos, desinibidas, pressionavam cinturas, nádegas, coxas e todo o espírito de tentação que residia nesses corpos sedentos por sexo.
Sexo... Pura vontade de matar aquele tesão que deixa a boca seca.
A língua passava pelos lábios, pelas pernas, pelo peito e umedecia, com choque térmico, todo aquele calor.
Era um corpo de Deus, torneado nos mais preciosos detalhes que um homem mortal pode ousar ter.
As mãos dela, mãos danadamente curiosas, não resistiam em tocar ele, marcar as costas com unhas roxas, sentir os músculos, os pelos, o cheiro e fechar os olhos para ter como sensação cada pedaço daquela luxúria.   
Era um efusão de sensações, um querer antigo que assim, ao acaso, acabou num quarto de gozos.
Meu Deus, como tens a audácia de fazer para o mundo algo tão belo?
Como podemos nós mulheres resistir a toda soberania que pulsa desse corpo? 
Esse único soldado, de mãos tão sedutoras, olhos tão cafajestes e pernas, coxas, bunda e barriga tão perfeita merece, com toda a glória de merecimento, um exército de prazeres.
Qual mulher não se subjuga diante de Apolo? 
Santas e putas oferecem a cara para que seja batida, os cabelos para que sejam puxados e o corpo para que seja profanado por todas as horas de um delírio.
Que corpo resiste ao arrepio de sua barba, aos tremores de sua língua, aos sussurros e gritos do seu prazer?
Pois então, que sejam minhas as suas profanações...
Leia-me toda, invada meus pensamentos,
surja pela noite por debaixo de meus lençóis.
Passeie pelo meu mundo com seu jeito despretensioso.
Me olhe querendo me paquerar.
Dance e roube minhas vergonhas.
Seja o Apolo desse corpo sem deus,
Seja o sorriso canalha de todos os arrepios.

Para as solteiras(os) que por aqui passar, desejo que hoje, 
no "Dia do Solteiro" vocês tenham o imenso prazer de esbarrar com Apolo. 
#FicaDica!

11 de agosto de 2011

Saudade

, 1










"Quantas saudades temos que sentir para que, enfim, nossos olhos não mais lacrimejem?
Quero um dia pegar as cartas e encontrar nelas uma saudade com gosto de cereja.
Veja, dizem por aí que amores podem ser inventados e que a primavera se aproxima.
Aproveitemos! 
Pois com a chegada de novos sóis tudo será mais doce." *





*Era algo mais ou menos assim, sei que o que enviei ficou diferente, mas ambos te falam a mesma coisa. Eis a nossa sina: Sentir Saudades...
Saudades... Com letra maiúscula e reticências.



Mrs. Cold

, 0



Hey, baby
whats going on?
We lost control and you lost your tongue
You lost me
Deaf in my ear
Nothing you can say is gonna change the way I feel...

8 de agosto de 2011

Sugestões para atravessar Agosto

, , 2


Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade… Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.

(Caio Fernando Abreu. O Estado de São Paulo, 06/08/95)