27 de junho de 2011

Olhos

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De repente se olharam
E numa fração de minuto sentiram uma imensidão de sonhos solitários passarem por suas mentes...
Aqueles olhos se apaixonaram e a partir dali viveram uma vida de lágrimas, colírios e oftalmologistas...
Como era possível que aqueles olhos possuíssem tamanha delicadeza em seu jeito de sentir? Bastavam olhar um no outro que tudo passava e ser eles.
Tudo era tão singelo ao redor que, sem perceber, como uma falsa paz que se instalava num peito angustiado, desejaram se entregar aquela sensação azul.
As vozes não eram ouvidas, pois palavras não eram necessárias naquela comunicação.
As peles roçavam ao som do sussurro do suor que descia e as bocas, abertas, beijavam-se em busca de um gosto apurado e indiscreto.
Em cada momento juntos aqueles olhos se amavam na contemplação de um prazer, mas de repente foram necessários óculos e as lentes passaram a atrapalhar... o amor ficou embaçado...
E aquilo que era claro, nítido e perfeito passou a ser aparentemente confuso e estranho.
As lentes fizeram a visão supostamente melhorar e aquela pele lisa, não parecia mais lisa e aqueles cabelos macios não tinham mais a mesma cor e os olhos, ao acostumar-se com as lentes passaram a se cansar daqueles rostos outrora belos.
Descontentes com a situação resolveram ir em busca de novos recursos, talvez colírios ajudassem a descontrair o momento... o cansaço... mas tudo parecia vão... os olhos não mais se reconheciam e as palavras passaram a ser necessárias.
Aprenderam a falar, mas as frases nunca diziam exatamente o que sentiam, sempre vinham rodeadas de dúvidas, medo e constrangimento e logo os dois desaprenderam a amar.
Não vendo mais um ao outro, não sentido nas recíprocas íris o amor que ambos sabiam existir, resolveram cegar-se para a paixão que outrora existira. 
Separados, um ficou com outros olhos e o outro ficou com a saudade de não mais descobrir o que sentia.

(23/12/2009)

26 de junho de 2011

Socorro

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Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos

Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada.

Eu preciso de um amor.
Um amor que me tire o fôlego, 
que me roube as tardes de estudo lembrando de um beijo dado em qualquer canto.
Um amor que plante sorrisos em minha pele, 
Que me descabele, 
Me atropele, 
Me ponha no colo, 
Me acaricie, aprecie e traga suspiros para minha boca.
Socorro!
Definitivamente não sinto nada e essa apatia me perturba.
Dizem por aí que ninguém nesse mundo se perde, 
então me ache, venha, tome a minha razão, 
deixe-me apenas com o prazer da ilusão do que suponho ser amor.
Já não sinto nada e, por favor, eu preciso de qualquer coisa que se sinta.
Amor, meu querido, não se demore por aí. 

21 de junho de 2011

Aviso Desde Já

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Não escolhemos por quem nos apaixonar, nos apaixonamos assim, por quem não sabíamos que poderíamos amar.
Posso olhar pra você e te falar : desculpa, não adianta insistir, não precisa me agradar, mas "eu não vou me apaixonar por você." *
Pois vejo em teus olhos, em teu jeito, em tudo teu, detalhes que não se encaixam no meu modo errado de gostar.
É, eu tenho um modo errado, supostamente errado, de gostar.
Me apaixono por mãos sem carinhos excessivos, 
Mãos que não me sufoquem o espírito,
Por olhos misteriosos, nos quais eu me perca em abismos desenhados pela minha ilusão.
Pelo perfume que se entranha em minha pele e não há banho que tire, pois os poros já estão demasiados cheios de uma substância que docemente se torna minha.
Me apaixono por livros velhos, cabelos desarrumados e camisas amassadas...
Me apaixono pelo telefone que não toca e, se acaso toca, é somente quando não mais se espera
Pois a surpresa de se atender o telefone e ouvir do outra lado Aquela voz, exatamente AQUELA, é uma cifra que não sei explicar.
Digo, então, que sou do tipo que se apaixona por esperas,
Por saudades,
Por matar loucamente as saudades
Por poesias supostamente só minhas, pois também sou do tipo que se apaixona facilmente por palavras.
Por olhos claros, barbas e canalhices...
Não me apaixono pelo previsível príncipe encantado.
Ele é perfeito demais, certo demais, bom demais, doce demais, pegajoso demais.
É coisa demais que ocupa espaço demais e não me deixam gostar.
Definitivamente não gosto de príncipes.
Me apaixono pelos piratas que me roubam o fôlego
que amarram com correntes meu coração e lançam-me ao mar de desejos pagãos.
Adoro aqueles risos cínicos, com aquele olhar safado que sabe o que fazer pra agradar.
Por isso repito: Prefiro o Arlequim, o Pierrot já o fiz para mim...
Colombina indecisa, sabe, mesmo na indecisão o que lhe agrada mais
E além de Colombina - é fato - ainda sou Rodrigueana. 
Afinal, a vida é rodrigueana com todas as suas pertubações e desejos insanos.
Não sabemos por quem vamos nos apaixonar, mas sabemos por quem não vamos.
A paixão sempre me chegou assim, de supetão, pela pessoa que não tinha nada do que eu procurava, mas tinha exatamente o que eu precisava e não sabia que existia.


* FicaDica!

18 de junho de 2011

Aconchegue-se

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Mãos que acariciam como lenços...
Olhos ainda não vistos.
E na vontade, os dedos delineiam a curva das costas,
subindo, lentamente, arrepiando cada centímetro do desejo.
Poderíamos brincar de mar
Passear entre reticências
Nos lançar na tempestade e sentir as gotas confusas
escorregarem deliciosamente pelo emaranhado de possibilidades.
Me arrasto pelo silêncio de tua boca e
Me perco na poesia de tua conquista e
Espero, sem esperanças, mas com ilusões
Por tua palavra, perfumada, feita para mim.
Surja, quando quiser, pois as tardes andam vazias
esperando por novas estações.
Quero inventar uma primavera nossa.



"Vamos ceder enfim à tentação das nossas bocas cruas"
#ChicoBuarque


*Imagem de Julie de Waroque... Recomendo que visitem. Há fotos lindas lá.

Epígrafe

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A LIBERDADE COMO FUNDAMENTO DE UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM JASPERIANA PARA A FORMAÇÃO HUMANA 

O que é liberdade?
Para uma libertina do século dezoito, o casamento.
Para uma mulher contemporânea que odeia o marido, o divórcio.
Para um escritor pobre, o dinheiro.
A morte dos pais, a fim de publicar seus livros sem escandalizá-los,
significava a liberdade para Proust.
Para uma criança, a porta entreaberta e a luz do corredor
 podem ser o fim dos pesadelos noturnos.
 E para mim?

Como Esquecer – Myriam Campello, 2010.


#Eis a epígrafe da minha linda monografia, que enfim, depois de muita hermenêutica fenomenológica, consegui terminar.


14 de junho de 2011

Encontro Marcado*

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Tivemos dois encontros...
No primeiro Ele despiu meu corpo me cobrindo de carícias;
No segundo despiu minha alma invadindo todo o meu ser.
Acabei nua nas duas situações, mas na segunda Ele visualizou minhas minúcias desvendando meus segredos... bateu nas portas tentando acordar meus montros, por mais que eu tentasse tapar as fechaduras não adiantava... as minhas chaves já eram Dele.
Indefesa... Ele me descobriu... Ele conheceu meus medos, até os mais antigos, que eu escondia de mim mesma.
Fiquei nua nas duas situações...
Ele arrancou minhas máscaras... me olhou nos olhos e entre desculpas me beijou...
Meu coração chorava...meus montros pediam pra sair... mas minha mácara não caiu.
Entre beijos selvagens... "Me entrega tua alma"... medo, angústia, desejos, dúvidas...
Quem sou eu? Quem é Ele? Quem nós somos?
Entre promessas de reencontros... corpos novamente nus... almas novamente nuas...Um baile sem máscaras em busca da dança da perfeição.

Fui visitar a antiga Rodrigueana, pois volta e meia vem aquela saudade de quando eu era ela. Saudade óbvia, porque naquele tempo, apesar de todos os sofrimentos e dores de amores, eu era mais feliz.
Tudo começou com esse texto e a partir dele todas as letras se destinaram, com tinta de sangue escrita com a pena da vontade, ao Mephistópheles que comprou minha alma.
- Me entrega tua alma... Te mostrarei os mais deliciosos prazeres e voaremos juntos por cima da mediocridade humana.
Tudo com aquele riso sarcástico no rosto e aquele cheiro vanguardista na pele.
Foi lindo aquele dia... Verdadeiramente inesquecível.

*O Título faz referência o filme "Encontro Marcado"... O texto original lá no Rodrigueana não tinha nenhum título e agora, relendo e relembrando... Não deixei de me apaixonar pela morte, infelizmente não era uma morte com aquela carinha fantástica do Brad Pit, mas foi uma morte deliciosa apesar de todos os pesares. 

12 de junho de 2011

Febre

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Se fôssemos qualquer outra coisa além de nós?
Pelas ruas andam memórias e em supostos encontros vamos aos poucos guardando sorrisos.
Perdi o gosto de damascos que guardei por longo tempo...
Esqueci dos livros que rodeavam as paredes e lembrei daquela tarde na praia em que esperei pela mensagem  talvez trazida pelo mar.
As gotas vão se acomodando na terra que se molha e o corpo se lança cada instante mais preguiçosamente na rede estendida na varanda.
Os livros de filosofia continuam sendo os únicos a serem lidos,
E nesses tempos espera-se apenas o pôr do sol e o perfume de flores que vem do jardim.
Há dia em que o coração é cheio de vontades e grita e se despedaça e rasga e amassa as cortinas que a razão insiste em armar.
Mas façamos silêncio para ver se assim, quem sabe, essa angústia passe e possamos descansar.


11 de junho de 2011

Poesia

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“Como é lá?
Quão solitário é?
Ainda é vermelho ao pôr do sol?
Os pássaros continuam cantando no caminho para a floresta?
Pode receber a carta que eu não ousei enviar?
Posso transmitir a confissão que não ousei fazer?
O tempo passará e as rosas desaparecerão?
Agora é hora de dizer adeus.
Como o vento, que permanece e depois vai, 
exatamente como as sombras.
Para as promessas nunca cumpridas,
Para o amor mantido até o fim,
Para a grama beijando meus tornozelos cansados
E para os pequenos passos que me seguem.
É hora de dizer adeus.
Agora, como a escuridão cai,
Uma vela será acessa novamente?
Aqui eu rezo
Para que ninguém deva chorar
e para que saiba
o quanto te amei.
A longa espera no meio de um dia quente de verão.
Um velho pensamento me lembra do rosto de meu pai.
Mesmo a solitária flor selvagem timidamente afasta-se.
Quão profundamente amei.
Como meu coração acelerou ao ouvir a sua débil canção.
Eu te abençoo.
Antes de cruzar o rio negro com o último suspiro da minha alma
Começo a sonhar com uma manhã de sol brilhante
Outra vez desperto, ofuscada pela luz
E o encontro esperando por mim.”

The Verve

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Cause love is noise, love is pain
Love is these blues that you're feeling again

6 de junho de 2011

Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam

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Houve dias em que meu coração passeou por bosques escuros,
Viveu guardado pela falta de algo no qual amar.
Mas dias com o tempo passam e o encontro que se esperava não é achado na escuridão de uma noite bela, mas na luz de estrelas que te mostram o caminho que pode ser seu. 
Gosto de céus azuis de mares calmos...
Dizem que existem anjos, mas como podemos saber?
Sempre os imaginei com asas suntuosas, rostos doces e voz pura 
E mesmo em meio a minha descrença, sempre gostei de acreditar nessa proteção.
Ando melhor comigo mesma, mas na verdade, 
Ando feliz por mim pois encontrei prazer em curar minha ferida e sei que não me curei sozinha.
Muitas foram as lágrimas, muitos os amigos e muitos os disfarces para se fingir que estava bem.
Hoje, voltei do trabalho mais tarde, desci do ônibus, a rua vazia... 
Esperava o sinal fechar e enquanto isso um rapaz, que não tinha cara de anjo, parou ao lado, também esperando para atravessar.
E me vem aquele medo: Agora vou ser assaltada, que azar... já disse a mim mesma para não ir por aquele caminho, parece até que gosto de brincar com a sorte, pode levar tudo, já to perto de casa, não preciso de dinheiro (...)
De repente o rapaz fala: Você é iluminada e Deus guarda planos bons para ti.
Sorri de graça e agradeci, ao mesmo tempo que atravessamos a rua e seguíamos caminhos opostos.
Segui com algo dentro de mim que saía pelos olhos como lágrimas, que saía pela pele arrepiada e saía pela boca numa inexplicável sensação de algo que eu nem sei se era o que parecia ser.
Olhei pra esquerda a fim de ver o vulto do rapaz e senti um sopro no coração ao constatar que não havia ninguém.  
Dizem que anjos existem... 
E já me falaram que o meu anjo anda sempre ao meu lado...
Ele tem voz pura e um rosto doce. 

"...e parecia uma menina cheia de fé em tudo aquilo que suspeitava real, embora invisível.''
#Caio Fernando Abreu

5 de junho de 2011

Da estreiteza à expansão

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Quando nos dedicamos, com o coração, à busca do autoconhecimento, é inevitável que chegue um instante em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais. Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem. Inábeis com a paisagem aos poucos revelada, às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades, por mais libertadoras que sejam. É em vão. Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos. Existem portas que se desmancham após serem atravessadas, como sonhos que se dissolvem ao acordarmos. Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las. Da estreiteza à expansão. Da semente à flor. Do casulo às asas, nos ensinam as borboletas.

2 de junho de 2011

Eu...

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Ando simplesmente com vontade de outro Eu.

O espelho me cansa com essa imagem apática, desmotivada e descabelada.
Preciso somente de mudanças...
Quero voltar a olhar para mim mesma e me reconhecer apenas pelo castanho de meus olhos.
Quero apenas
C O I S A S  N O V A S... 
Somente uma nova semente de sorriso.
Não adianta procurar por aí,
Tais coisas devo achar em algum canto aqui, 
Remexer meus poros, jogar certas lembranças ao mar, vez ou outra guardar e ir embora...
Ir-me embora...
Simbora prum bar,
Simbora dançar,
Já me enfadei de mim...
Foram muitos os momento de convivência com mim-mesmo, 
e nós duas já não não temos mais assuntos.
Todas as músicas antigas já foram ouvidas e
no meio de tanta calmaria, o que me acalma são os gritos do Foo Fighters.
Filmes depressivos e cadeira de balanço também preenchem meu tempo.
Eu, simplesmente quero mudanças em mim mesma.
(...)

#Então, na falta de COISAS NOVAS, 
resolvemos mudar.