29 de maio de 2010

Recado de uma raposa

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"Por favor... Cativa-me! Disse a raposa ao principezinho."

Por favor... Cativa-me! Digo eu a tu.
Cativa-me que te amarei, conhecerei teus passos, teu perfume e
teus traços e minhas mãos sempre estarão aqui,
a postos, caso tenhas a necessidade de um carinho.

Por favor... Cativa-me e torna-te responsável por mim.
Cuida de mim com afagos,
preciso tanto de sorrisos e abraços.

"A linguagem é fonte de mal entendidos"

Logo, cativa-me pela pele,
pelos olhos e
pela presença...
Basta um carinho em meus cabelos para que eu seja cativada.

E se de fato quiseres me cativar presta atenção ao que recomenda a raposa:


"Teria sido melhor se voltasses a mesma hora.  Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Às quatro então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o meu coração."


E meu coração já foi deveras preparado desnecessariamente.
Cativa-me que te amarei.
Cativa-me que me tornarei única para ti.
Cativa-me que encontrarás motivos para me amar.

24 de maio de 2010

Apenas uma coisa antiga

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Hoje quero apenas uma coisa: 
Enfeitar os cantos do meu quarto com jasmim.

Deitar-me-ia nos lençóis usados de minha cama embalada pela fragrância das pétalas.

Jasmim lembra a minha infância.
Ah! seu cheiro... Como defini-lo?  
Seu cheiro entorpecente acalenta a minha alma como o abraço de minha mãe.
Quando criança as minhas tardes eram de jasmim.
O muro de minha casa era de jasmim.
A rua era de jasmim.
O mundo também...
Hoje sou jasmim...
Pequena e romântica,
tragicamente romântica...
mas minha casa já não tem mais jasmim,
roubei um cacho de uma casa no meio da rua,
não resisti, era tentador demais, a árvore estava lá, linda, florida, cheirosa...
Foi um cacho tão pequenino, não fará falta ao dono, se é que jasmim tem dono,
mas perfumará a minha mão, 
acalmará meu coração por algum tempo
e  eu guardarei esse mínimo desejo nas páginas de um livro novo. 
Um livro de saudades que eu não posso matar,
um livro de beijos que não posso dar,
livro de rostos...
Hoje eu queria encher meu quarto de jasmim, deitar em minha cama de lençóis usados com um livro em minhas mãos e a saudade guardada na estante.

21 de maio de 2010

É preciso estar sempre embriagado.

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É preciso estar sempre embriagado.
Isso é tudo: é a única questão.
Para não sentir o horrível fardo do tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que?
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser.
Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão:
É hora de embriagar-se!
Para não ser o escravo mártir do tempo, embriague-se;
embriague-se sem parar!
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser."
 Charles Baudelaire

8 de maio de 2010

Um simples roçar...

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O leve roçar de uma mão...
Não. Acho que foi mentira, acho que foi o meu desejo lacaniano de querer uma aproximação.
Ah! Tua mão...
Tua mão que me escreve letras das quais decifro palavras inúteis.
A tua mão não roçou em mim assim, do nada, como um simples "olá menina, como vai?"
Tua mão roçou com certo carinho, com certa vontade de se roçar em minha pele.
Ao teu toque penso rapidamente: Pára!!! Não. Você está louca.
Mas logo, o teu toque me diz "vem, sou assim simplesmente como vês."
Ah! psicologia barata que insiste em me analisar...
Sem Lancan por favor!!! Dê-me outra coisa, dê-me outros braços...
Quero viver, estando certa ou errada,
Quero apenas a tua mão sem palavras,
apenas um gesto de simples tato, como que por linguagem gestual, toques exploratórios, desafios,
convites e corpos.
Quero tua mão em minha pele de Colombina.


Cultivo

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Na próxima rua,
no virar do coração
talvez eu encontre algo inesperado...
Porque não um amor do passado,
ou um carro quebrado,
ou um carrinho de mão?
Na próxima rua
sei que se eu for ao Oriente
encontrarei aquele parque no qual um dia brinquei.
Mas não quero lá voltar...
Voltarei então para casa,
Voltarei talvez por um caminho feito de curvas,
por ladeiras e por poças de chuva que parecem nunca secar.
Chegarei em casa,
jogarei minha bolsa em qualquer canto,
tomarei um banho gelado em pleno outono
e enfim lembrarei das flores que um dia cultivei.
Meu bonsai morreu,
restou-me apenas o seu vaso,
restou-me apenas a saudade de uma amizade
que contra a minha vontade parece que também vai morrer.
Será que errei a medida da água?
Será que havia tanto agrotóxico assim no adubo?
Mas eu jurava que era natural!!!!
Não era natural sermos amigas?
Sermos flores de jardins compartilhados por amores juvenis?
Será que a culpa é do outono que insiste em nos tirar as pétalas dos anos
em que vivemos juntas?
Sinto saudades de nossas conversas sinceras,
de nossos risos envergonhados,
de nossas mãos estendidas, sempre ao alcance.
Ultimamente tenho precisado de seu ombro,
mas tenho esperado o seu tempo de florescer.