23 de abril de 2010

Delírio

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Sentado com uma taça na mão, olho a garrafa que ela me mandou.
Pego-a com carinho, retiro o lacre da boca e ansiosamente vou me preparando para abrí-la.
Nesse momento sinto o seu cheiro doce e espumante e à medida que encho a taça vou embriagando-me com seu perfume voluptuoso.
Admiro-a e a luz artificial de uma noite inesperada reflete pelo vidro de um cálice a vontade do gosto dela em meus lábios... Agora a tenho em minhas mãos e aos poucos, bem devagar, vou criando a coragem de me aproximar de você ou será que é você que se aproxima de mim?
Ao virar-te em meus lábios sento tuas primeiras gotas descer por minha boca, molhando a minha língua e penetrando nas minhas papilas gustativas que gustativamente mostram-me teu gosto.
Nesse êxtase, já não bebia mais o champanhe que me mandaste. A cada gole um pouco mais de ti eu senti em mim... Bebo tuas pernas, teus braços, seios e cabelos, bebo cada milímetro de você e vou-me, aos poucos, me tornando um viciado em teu álcool.
Batizo-me em tua religião ligando-me à divindade de teu sabor e nesse sacramento, teu ser, completamente liquefeito em uma taça de champanhe doce e quente, torna-se a Axis de minha existência.
Percebo então que a garrafa anda meia, mas já é tarde, não consigo parar de te beber, viciei-me. Pego-a com carinho e, em um único movimento rápido e desesperado gozo o teu ultimo gole.
Deitado no sofá sinto os teus passos em mim, desces por meu pescoço e segues o caminho vital de meu corpo miseravelmente humano... Brincas com meu sangue, acaricias meu coração, já deveras embriagado por teu champanhe... Invade-me por completo...
Olho novamente a garrafa na infante ilusão e ainda ter-te ali, mas já estava vazia.
Deito-me sozinho e fico a sentir-te... Você não estava mais na garrafa, mas em cada milímetro meu. Cada célula minha continha agora o teu prazer mais refinado. O teu sacrilégio.
Adormeci.


Com carinho à um Pierrot que hora se transforma em Arlequim...
Um doce Pierrot de minha vida, amigo e amparo, paixão e ternura...
Talvez tudo tenha sido um Delírio, talvez houvesse champanhe demais em teu coração...
Mas assim amamos... devotamente e irracionalmente...
Um doce abraço de Colombina!
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