28 de outubro de 2011

A ausência cura o amor*

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Hoje passei pela 3ª travessa da saudade,
Na boca o gosto amargo do café e na lembrança as fantasias de um carnaval passado por aquelas ruas vazias.
Tava tudo meio doído e, de repente, aquele amor todo se esvaiu pela janela do ônibus... 
Realmente você não era tão necessário assim para que meu sorriso fosse feliz. Que mania a minha de submeter o meu sorriso ao olhar alheio.
Com o tempo, as dores vão se aquietando e todas as lágrimas, por mais salgadas e belas, foram deixando o drama mexicano e se acomodando na melodia dos fones de ouvido.
Preciso de antibióticos para curar as infecções que carrego na minha alma.
Uma dose de amoxilina para minha garganta super dolorida pelos vômitos da saudade.
Uma caixa de rivotril para acalmar as pressões dos nervos(ismos) alheios.
Um paliativo qualquer, um floral que sirva, qualquer homeopatia recomendável.
Se nada servi um vinho por favor, do mais doce e barato, para que todo o tormento se embriague, a memória se apague e novas coisas aconteçam.
Hoje passei pela 3ª Travessa da saudade e ela fica ao lado do Cemitério.
Se hoje sinto saudades?
Sim, sinto todos os dias.
Saudade do perfume de jasmim que tinha a minha rua.
Saudade do tempo em que nada (definitivamente) era tão sério e definitivo.
Saudades das brigas de 5 segundos com meu irmão. Antes jogávamos brinquedos um no outro, hoje lançamos ofensas.
Saudade do abraço materno que me protegia, dos cuidados com a boneca da casa e de toda a inocência dos olhares lançados nas atitudes.
Saudades de acordar de bom humor e abraçar vó e tia.
Saudades de saber que tudo está bem e não precisa se preocupar.
Hoje passei pela 3ª Travessa da saudade e por ela passam todos aqueles que deixaram as saudades mais bonitas, aquelas que já não podem ser mais corrompidas e que guardamos em casa nos porta-retratos.





Put me back in the bottle
Where the sea meets the sun
Where the bones and their rattle
It don't mean anything to no one
And I, I had a swing
When my soul was my own
I had my teeth bared for battle

* Marcel Proust
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1 comment

2 de dezembro de 2011 às 09:34

òtimo texto, fiquei arrepiada lendo!!