5 de julho de 2012

Algumas Elucubrações

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Há momentos na vida em que aquilo que lembramos é apenas o resto do que fomos.
Bem que Drummond falou que deveríamos aprender a arte de (con)viver.
Repara... quantas vezes você abre mão daquilo que você é para por um sorriso no lábio alheio?
Quantas vezes você ligou pedindo desculpas por algo que não vez apenas pelo simples medo de não poder errar outra vez?
Todas as relações se baseiam em atos de confiança.
Mas até quando podemos olhar para teus olhos e neles encontrar resquícios de verdades?
Como se pode construir sentimentos?
Talvez gostar seja, realmente, um grande erro.
Porque quando gostamos lançamos ao outro qualidades que nem sempre eles carregam. 
Não conseguimos evitar, sempre fazemos assim.
Não nos contentamos, queremos mais, exigimos mais, pedimos mais apenas por acharmos que aquela pessoa é mais do que aquilo que ela nos mostra.
Ainda luto comigo mesma para não afundar no niilismo de que esse mundo está fadado à relações mercantilistas.
Talvez ainda tenha algo de humano em nós, em mim, em você.
Talvez ainda nos reste a possibilidade de acreditar que se pode confiar,
que se pode cativar, que se pode amar incondicionalmente.
Expectativas nos roubam a possibilidade da surpresa e fazemos de nossa vida uma contínua escola onde aprendemos artifícios psicológicos para tentar prever, de algum modo, certas atitudes, interpretando outras e transformando isso tudo em um arsenal de tranqueiras que definam algo do ser humano.
Sou humana. 
Sei de meus desejos físicos, sei como minhas emoções me dominam e até que pondo minha racionalidade reina intelectualmente sobre meu corpo.
Sei que há momentos em que olho no espelho e não me reconheço,
procuro lembranças de meu próprio rosto e apenas encontro diante de mim uma mulher desconhecida.
É estranho mudar.
Não é estranho mudar quando a gente diz que vai mudar. Isso não é estranho não.
É estranho mudar quando a mudança nos chega como vento que invade pela janela e derruba qualquer coisa de qualquer canto. É estranho se deparar de repente com uma vida que você não lutou pra ter, uma vida que veio surgindo como medusas dançando no mar.
Você fica bobo olhando, tenta de todas as maneiras compreender como água pode ter vida e como é bonito ela dançando tão perto... tão perto... tão perto que quando te toca, te machuca.
Resta-nos o medo de se machucar de novo e a sensação incômoda de que ali não é tua casa.
De que aquela não é você e de que essa não era a vida que era pra ser.

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