25 de julho de 2012

"Não acredito que vou gastar desse modo a vida..."

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Onde foram parar as tardes de fazer inveja às cerejas? 
Quando lembro daqueles olhos não tenho mais certeza se eram esses mesmos olhos que minha lembrança se lembra. 
Há uma fantasia que envolve minha recordação e transforma tudo aquilo que foi vivido numa espécie de sentimento enevoado por uma necessidade de perfeição. 
Não lembro a última vez que o vi, nem nosso último beijo, nem o seu último suspiro em meus cabelos. Lembro apenas do seu cheiro, que inconstante, vagueia por aí na intenção maquiavélica de não me deixar esquecer. Mas quando me ponho a recordar acabo achando tudo aquilo mais bonito do que realmente foi. 
Tento voltar naquele sábado que o encontrei depois de uma ausência de três meses. Será que realmente vivi aquele dia ou acabei inventando pra mim mesma uma situação que seja digna de ser lembrada por toda a minha vida? 
Minha teoria é a seguinte: quando o amor acaba, ele fica mais bonito.  
Mais bonito porque nos resta apenas a lembrança do objeto amado e na lembrança a gente esquece das falhas, acabamos por maquiar as pequenas cicatrizes e guardamos apenas aqueles instantes que julgamos fundamentais para deixar o amor bonito e digno de ser lembrado. 
Já tive um amor perfeito e bem vivido, mas hoje, quando me recordo, acabo achando que ele foi mais do que era. 
Não sei até que ponto isso é bom ou ruim. 
Pelo lado positivo podemos achar que pelo menos vivi um amor de verdade, daqueles de filme onde eu fugiria (e quase fugi) de moto em uma viagem rumo ao sul da América. 
Um amor daquele que tem cheiro e trilha sonora de Cássia Eller cantando No Recreio. Sempre há um sorriso de canto de boca quando ouço a parte em que Eu só queria me casar Com alguém igual a você... 
Mas sejamos coerentes. 
Pelo lado negativo toda essa ilusão de grande amor acaba por influenciar na construção de um referencial que nem sei mais se é válido e confiável, portanto é claro que existe alguém melhor do que você sim, se não existisse eu não teria me afastado. 
Não sei onde foi parar as tardes de fazer invejas às cerejas, sei apenas que não tem como esquecer o fato delas, um dia, terem existido e fico feliz por isso, mesmo que isso tenha sido apenas invenção do meu coração.
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