“Saber que não se escreve para o outro, saber que as coisas que vou escrever não me farão nunca amado por aquele que amo, saber que a escritura não compensa nada, não sublima nada…”
Roland Barthes
Hoje, numa mesa de bar, uma amiga citou uma frase de Barthes onde ele diz que nós só escrevemos cartas de amor no início, com seus mistérios e no fim, com seus sofrimentos.
A relação, em seu percurso, não é escrita, mas vivida em cada dia, sentida em cada beijo e enxugada em cada lágrima, durante os meses e anos que o amor aguentar.
Eu sei que ando praticando o desapego, mas isso não quer dizer que não quero me apaixonar.
Necessito de amor, amor com todos os seus suspiros e arrepios.
Um amor com início, meio e fim. Com cartas, textos, retratos, papéis de chocolate e rótulos de cervejas.
Amor datado e registrado numa memória palpável, mais confiável que a lembrança de nossa pele traidora.
Deixo ao seu alcance as possibilidades de receber as cartas de amor que um dia escreverei para você.
Cartas que guardem o mistério do início de cada olhar, a duração de cada beijo e cada sorriso e, se possível, poucas lágrimas, pois lágrimas sempre são necessárias para que o fim chegue.
“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção de um duplo contacto: de um lado, toda uma atividade do discurso vem, discretamente, indiretamente, coloca em evidencia um significado único que é “eu te desejo”, e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir (a linguagem goza de se tocar a si mesma); por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, prolongo esse roçar, me esforço em fazer durar o comentário ao qual submeto a relação.”
Roland Barthes
3 comments
"Em que canto do corpo adverso devo ler minha verdade?" Roland Barthes, 1977.
Meu Daemon insiste em buscar e eu insisto em questionar:
> Em que ENcanto do corpo inFausto do outro devo encontrar a minha verdade?
Ahhh! Meus Deus como são tantos esses ENcantos...
O difícil é não escrever, estando ou não com alguém, amando ou esperando pelo amor. Mas sim, é certa a escrita no começo e no fim.