23 de janeiro de 2012

Um olhar oriental

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(sábado, 21 de março de 2009)










O clima de mistério envolvia aquela noite de solidão.
Um corpo de âmbar velava, naquele momento, o sentimento que morria e esses últimos suspiros traziam o peso de anos decorados pela paixão.
Seus olhos pequenos fotografavam cada detalhe daquela cena.
Sentada de frente à penteadeira. Perfumes... Pó de arroz... Blush... Batom vermelho... Lápis preto.
Enfeitava a si mesma com uma gueixa que se prepara para o casamento.
Mas não iria se casar. Não! Vai ficar em casa, sozinha, relendo a carta.
Aquela carta que trouxe lágrimas aos seus olhos.
Então porque se enfeitou se não vai sair?
O espelho não respondeu. Mas ele nunca responde, tem apenas o costume leviano de vigiá-la, invadindo sua intimidade e escondendo dela todos os segredos que tenta descobrir.
A carta tá molhada, suas mãos secas, o coração palpitando devagar e uma dor aguda dentro de si aumentando a sua angústia espiritual.
Desliga a luz deixando acessa apenas uma luminária chinesa. Deita na cama levando um pequeno espelho de mão e sob um reflexo vermelho repara na expressão de seus gestos tentando sofismar os sentimentos que perturbam seu coração.
Aquela dor intragável estava dentro de seus olhos queimando progressivamente as últimas gotas de sal que insistiam em sair.
O silêncio começava a se espalhar por todos os cantos. 
O tic-tac do relógio, o sussurro do vento, o balançar da cortina, o grilo, a buzina. De repente até a sua dor era muda e uma lacuna semiótica se pôs entre seu o rosto e o espelho.
- Qual o sentido da sua vida?
Perguntou-lhe o silente e inesperadamente todo o sigilo de seus sentimentos transbordaram por sua face branca deixando rastros luminosos pelos caminhos inabitados de sua superfície.
Aleatoriamente, buscando reordenar a cronologia de seus pensamentos, ia percebendo os objetos do seu quarto.
Guarda-roupa / janela aberta / fotos / um gato triste / solidão / chuva na rua / uma flor de madeira...
Pedaços de passados...
Lembranças requentadas pelo seu espírito saudoso.
A carta não estava mais em suas mãos, talvez solta em algum lugar. O telefone toca quebrando a inércia de sua fotocópia e todos os sons voltam estupidamente ordenados.
Senta, olha, não vale a pena atender, agora não mais.
O bonsai tá na janela, a terra seca, uma romã caiu a outra ainda resiste, corre à cozinha e retorna com água mineral para regá-la.
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