29 de abril de 2011

Desvelo

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Pega-me pela mão e leva-me a tua alcova,
Quando lá chegarmos arranca-me a roupa,
Joga-me na cama e
Beija-me na boca.
Não! Não precisas dizer nada,
Pois agora já não quero nada além do movimento
de nossos corpos ritmicamente embalados
pelo silêncio imemorável de nossos olhos que desistiram de falar.
Ai amor!
Estendida em teu leito está a minha carne dividida
em sete pedaços de prazer que se integram
em busca de uma satisfação antiga.
À meia-luz nossos pêlos se entrelaçam, cabelos, pálpebras...
e a dualidade de nossos seres se funde em uma
única espécie de transcendência que se comunica através
do ranger de nossos dentes
que instigam o pulsar frenético de artérias e
a explosão de gemidos que são sugados por nossas línguas dançantes.
Agora há apenas uma pele,
há apenas uma boca,
apenas um membro
e finalmente um único prazer,
refinado e úmido após o canibalismo de uma saudade surreal.
Olho-te então e vejo, além de teus verdes olhos amáveis,
o sentimento que tanta falta me faz.
Mas agora já não é preferível pensar.
Encosto minha cabeça em teu peito e
 sinto dolorosamente o aroma de nosso pecado.
A meia-luz vai progressivamente tornando-se inteira e
a transcendência una se fragmenta completando
esse eterno retorno a um mundo miseravelmente real.
Vestimo-nos, olhamo-nos e finalmente nossos olhares decidem falar.
Falam de despedidas,
Acenam um ao outro,
com lenços ao vento que transportam os perfumes exalados dessas mãos almiscaradas de velhas solidões.
01 de Outubro de 2009 
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1 comment

Anônimo
30 de abril de 2011 às 11:47

devorando o momento para na saudade o gosto sentir...


lindo!

bj