Mando-te lembranças, mas como posso ter certeza que irás recebê-las?
Mando-te embrulhado em papel celofane furta-cor aquele dia que para nós foi tão cinza. Lembra dessa lembrança? Nossos corpos ainda andavam a se conhecer.
Mando-te preso ao pé de um pombo correio aquele meu pedido de volta logo. Lembra como eu te pedia pra voltar? Às vezes desesperadamente, outras resignadamente.
Mando-te no meio de uma tarde a lembrança de nosso beijo. Não qualquer um, mas aquele que esperou três meses pra ser beijado.
Ah! Mando-te também, mas agora em um envelope um pouco manchado pelo tempo, as primeiras letras que minhas mãos te escreveram. Lembras da lembrança de lembrá-las?
Tenho tantas lembranças para te mandar
Tu lembra da lembrança do teu perfume em mim?
Tu lembra da lembrança dos meus olhos?
Tu lembra da lembrança de nossos sorrisos?
Foram muitos os anos, mas poucos são os dias que servem para ser lembrados, no nosso caso há apenas as sextas e dois esporádicos sábados e qualquer outro dia que não me lembro de lembrar e acabo achando que foi sonho.
Como posso te mandar lembranças se acho que não lembras de mim?
Não me desespero! Foi-se o tempo te atravessar abismos em busca de teu corpo.
Me resigno a recordar-te em minha lembranças eternas.
